quinta-feira, 30 de abril de 2015

"Tristeza Erudita"



Composição nº 800

TRISTEZA ERUDITA
(R.Candeia - 30/04/2015)

Labirinto sem saída não é labirinto
Não minto e sinto que isso é covardia
Numa tardia percepção da humanidade
Que tem imunidade às mentes sadias

Me equilibro na corda bamba dos meus erros
De uma forma insana que ensaia a paz
Aqui se faz, se erra, se acerta, se fuma e bebe
Flutuo e caio leve provando o que o efeito me trás

Pra tudo que não acho certo me manifesto
E nesse incesto Édipo o mundo se estranha
E até suas entranhas não são mais suas
Na mente bruta é só o sangue que banha

O desafio é sobreviver às coisas banais
Eu caço o que hoje são relíquias perdidas
Me infiltro nas vendidas dignidades cegas
E percebo nesses casos uma tristeza erudita

"Solução Subornada"


Composição nº 799

SOLUÇÃO SUBORNADA
(R.Candeia - 30/04/2015)

O que eu faço para me surpreender
Se as pessoas todas são tão previsíveis
Somos as pernas e o combustível do mundo
E só o vejo indo para lugares terríveis

O absurdo é a expressão mais comum
Professores acampam, apanham e levam tiros
Bandidos usam fardas, e ternos e gravatas
É a violência "pacífica" do qual me refiro

A "economia" do país empobrece quem tem menos
Cortes de custos significa trabalhador em perigo
Nenhum engravatado quer perder seu benefício
E o sacrifício cai no povo, veneno bem antigo

O esquema é o desequilíbrio esmagador
Ter miséria é necessário em qualquer eleição
E se até nossa "proteção" nos fere e ameaça
Não importa o que se faça, já subornaram a solução



quarta-feira, 29 de abril de 2015

"Mordaça"



Composição nº 798

MORDAÇA
(R.Candeia - 29/04/2015)

Deixa eu me calar agora
Vou acabar me perdendo em mim
Apagando os meus traços
Nos destroços de um pisado jardim

O tempo não terá espaço comigo
No meu abrigo que levita e estala
Dentro de um fogo aberto e vivo
Traduzindo cada palavra que não fala

E na selvageria de um coração "benevolente"
A moral convencional preconceitua tudo
Em seu mudo discurso que conserva
E preserva o que devasta o mundo

Mas essa regressão só consegue existir
Graças a pré-existência de nulos seres
Que não sabem nem o que e quem são
Desequilibrando a balança dos poderes

terça-feira, 28 de abril de 2015

"Miragem Burra"



MIRAGEM BURRA
(R.Candeia - 28/04/2015)

Quero fugir pra bem longe desse lugar
Onde a ignorância e futilidade não cheguem
Minha turma é um planeta feliz e solitário
Numa galáxia criada para que o vácuo reine

Hoje não me peça mais para ficar
Já perdi as contas do quanto eu bebi
Os meus cigarros todos acabaram
E refleti que não pertenço a isso aqui

Mundo onde as caras são quebradas
Num louvor banal e louco pela imagem
O espelho que elogia, amanhã corta
Numa morta felicidade de burra miragem

O último copo me encara com raiva
O ato de engolir só existirá por milagre
Ativando a vontade do sóbrio subconsciente
Que vira minoria até que a alma me largue

Terrenos longos sem nada por dentro
Cercados por muros feitos com excrementos
E me torno ignorante por ter que ignorar
Então, pasmo, viro na raça o copo, e não lamento

segunda-feira, 20 de abril de 2015

"(I)limitação"




Composição nº 791

(I)LIMITAÇÃO
(R.Candeia - 20/04/2015)

Minha ansiedade parece ser infinita
Nessa bonita incerteza que eu sei
Não há trégua na doce esperança
Que nos tira pra dança inusitada

Na neurose cotidiana de ter que ser
Livros são atirados como pedras
Limitando o cenário ao decorativo
Num curativo que é apenas moldura

Apenas colares com o vazio pendurado
Sobre olhares silenciosos e herméticos
Perpetuando valores criados sem inspiração
Como uma nova lei para todo destino

Tudo que se diz, de alma e tudo, fatal
Faz apologia à tal conhecida fatalidade
Será a ansiedade uma escondida vertente
Mais coerente que um necessário exílio?





sexta-feira, 17 de abril de 2015

"Esfigmomanômetro"



Composição nº 790

ESFIGMOMANÔMETRO
(R.Candeia - 17/04/2015)

A pressão do mundo está alta
Em pauta nenhuma ideia de evolução
O estetoscópio não escuta nada
É a parada cardíaca da revolução

Todos os cantos e becos poluídos
Valores doentes em estado terminal
O sangue aumenta nos caminhos estreitos
Onde bandidos e prefeitos tem sinal de igual

As veias que são vias latejam forte
A nossa sorte por azar não amadureceu
Foi exportada barata antes do tempo
Tentamos importá-la mas o dinheiro não deu

Então aferimos a pressão na ação
Não temos paixão por essa asfixia
Que em demasia toda hora nos afronta
Numa frase pronta cheia de demagogia

"Determinar-se"



Composição nº 789

DETERMINAR-SE
(R.Candeia - 16/04/2015)

Uma surpresa sempre surge ao despertar
Como é normal desnortear após um sonho vago
E em mim a ansiedade de tentar contribuir
No tempo não sumir, ficar deixando algo

Num ambulatório lotado de sentimentos
O ressentimento não encontra o seu lugar
Não quero só vagar como um cego que só vê
Venho pra aprender a importância do regar

O café requentado não me incomoda mais
Ainda mais o mesmo sendo o combustível
E o não perecível medo não me convence
Que não se vence longe do acessível

Doenças ascendentes contaminam o interno
Mas o meio externo complacente é a bactéria
A nossa matéria se flagela com isso
Então preciso nadar em minhas artérias

"Estático"



Composição nº 788

ESTÁTICO
(R.Candeia - 16/04/2015)

Me distraio analisando esse nada
Que preenche os novos costumes
Loucura paradoxa privilegiada
Onde a teia de contradições se resume

Nessa patética sociedade agonizante
Estantes estão cheias de vocações religiosas
E suas penosas confissões sem valor ao público
Palavras banais que se tornam perigosas

Devo me calar como uma bela estátua?
Minha consciência finge que isso é o melhor
Ter o sonoro silêncio de uma esfinge
Que não é decifrada, evitando o pior

Minhas janelas se abrem pra noite
E reparo na luz apagada abaixo do solo
Que não ilumina essas figuras nebulosas
E na certeza assombrosa busco meu colo

"Sinfonia"



Composição nº 787

SINFONIA
(R.Candeia - 14/04/2015)

Sou a oitava maravilha do submundo
E me localizo numa sinfonia perversa
Na controversa dos tempos atuais
Onde a guerra é mais amada que a conversa

E a pressa é o remédio da urgência
Numa sequência de fatos que machucam
Onde cutucam feridas com bala de prata
E a mídia tapa os poderes que abusam

Nossos olhos são vendados por trapos
E por onde escapo a rua é sem saída
Contaminada pelo odor da sujeira obscura
Durante a procura a inflação dá uma subida

E a massante sinfonia continua tocando
Sempre insinuando que somos os mais fracos
E nos frascos se preparam os coquetéis
Que deixam os lixos e os quartéis em cacos

"Fila (Sistema Inoperante)



Composição nº 784

FILA (SISTEMA INOPERANTE)
(R.Candeia - 08/04/2015)

Agências com sistemas falhos
Um atalho errado e sem previsão
Ficamos na mão e sem volta
O que revolta toda população

Palavras batidas de pessoas chatas
Audição ingrata nessa espera na fila
Ouvindo tanto fanatismo bobo
Onde todo misticismo cintila

E se aglomeram até nas vozes
Quando todos juntos o mesmo esperam
Cada um com sua estória diferente
Que normalmente as filas geram

E o simples se torna tão confuso
Nessa fusão de números pra tudo variados
Somos enforcados por esse sistema
A paciência é o tema desse livrado

"Realidade de Hoje"


Composição nº 783

REALIDADE DE HOJE
(R.Candeia - 08/04/2015)

Eu ando apaixonado demais
Por minha vida antiga
Onde quase tudo era perfeito
Pra dormir não precisava de cantiga

Me debruço na janela e sonho acordado
Nesse espaço que é proibido pular
Meu lar é minha maior proteção
Onde estão os bons ares pra entrar?

Tudo mal chegou e já se acabou
E já torço para o término do mês
A barriga satisfeita já foi pro sacrifício
Meu ofício agora é viver com o talvez

Mas com essa merda eu não me acostumo
Então fumo o que tenho com café
A fé só funciona de pé pra luta
Nessa puta batalha que a noite diz "até"

O pior choro vem do não alívio
Esse convívio é muito amedrontador
O pavor não pode ser nossa vestimenta
Que não esquenta e gela nosso interior

"Museu Interditado"



Composição nº 782

MUSEU INTERDITADO
(R.Candeia - 07/04/2015)

Vem e me diz o que você quer
Pra ser mais feliz assim em mim
Na cor que escolhemos para nós
Na visão que preferimos sempre ver

Nas palavras que trocamos sem querer
Nas frases que queremos sempre ouvir
E vir lado a lado pra enfrentar
O olhar de tudo que vem destruir

O aqui é um objeto pra provar
E testemunhar o que pode redimir
Reprimir o que vem nos acordar
É ter o bom senso de dormir

E assim o nosso quadro é guardado
Foi fechado o museu da exposição
O retrato desenhado ficou mudo
E por nós, tudo sofreu transformação

"Cusparada"



Composição nº 779

CUSPARADA
(R.Candeia - 02/04/2015)

Choque-se e tenha muito medo
Dê um trago longo e bem forte
No desmatamento foram-se os trevos
Terra infértil pra plantar a sorte

E em todos os recortes de jornais
Um álbum de fotos tão caótico
Com ótimos sorrisos sofridos
Temos vivido abraçando o exótico

E aquela cusparada que você levou?
O que sobrou do sangue derramado?
E o estado armado que nos dá o alerta
E só liberta o povo pra ele ser caçado

E assim nós fazemos as trincheiras
E as brincadeiras foram todas canceladas
Numa cilada bem escrota e perigosa
E em cada prosa uma pessoa é baleada

No dia seguinte plantam provas contra nós
Estamos sós, coagido e tomando dura
E idiotas ainda falam em intervenção
Animação estranha de quem vive na censura

"Presépio"



Composição nº 778

PRESÉPIO
(R.Candeia - 31/03/2015)

Vejo presépios da situação humana
Em camas que parecem calçadas
Largadas na indigência moral
A prova oral de quem critica é gargalhada

E há quem fale que eles querem ser assim
Que é mais fácil viver na navalhada
Que o ruim do mendigo é a malandragem
Mas toda noite pode ser o fim da estrada

Presépios de um descaso desumano
Não há plano de mudar essa verdade
A bondade é só depois cobrir o sujeito
Mau elemento que aterroriza a sociedade

Veja o Cristo Redentor que é tão bonito
E pra nós, nem aflito, cruza os braços
O país é realmente um paraíso
E do congresso sempre vem aquele abraço

"Renascimento"


Composição nº 777

RENASCIMENTO
(R.Candeia - 31/03/2015)

O tempo é sempre roubado pela saudade
Que nos leva a noção do pouco que temos
E vemos tudo isso logo se esvair
Porque aqui é um aviso que não lemos

E fizemos com que tantas mágoas
Nas águas pudessem se escorrer
E no decorrer de não ficar calado
O nosso melhor lado tende a aparecer

E no falecer de cada palavra doente
Rangemos os dentes todos felizes
As cicatrizes agem como túnel do tempo
Mas em nosso templo salvamos as raízes

Fazer renascer o que era saudade
Invade tudo loucamente de antemão
"Pois não?", nos atendeu nossa sanidade
Nossa verdade é mais profunda que meditação

"Na Ponta do Nariz"


Composição nº 776

NA PONTA DO NARIZ
(R.Candeia - 31/03/2015)

E no papo furado do governo
Me interno aqui dentro de mim
E assim eu vou me convencendo
Que a cor do mundo hoje é carmesim

Atitudes absurdas são tomadas
E nas estradas só buracos, não há luz
Essa cruz só incomoda e não ajuda
E as doenças só pioram pelo SUS

Onde estão todas as coisas que não são cumpridas
Nas compridas promessas de consolação?
Hidratando o povo seco de chorar, na saliva
Um viva aos milagreiros de eleição

Antigamente só faltava um dedo
E sem segredo hoje falta muito mais
Mas só não sigam os azuis do aviário
Senão seremos otários no nariz de um rapaz

"Básica"


Composição nº 775

BÁSICA
(R.Candeia - 29/03/2015)

Ando por caminhos estreitos
E não sei bem pra onde ir
Me arranho todo nesse muro
Que acabaram de construir

E até nas horas eu me perco
Provocando em minha mente um motim
Pondo um fim em tudo que regride
E que agride apedrejando o sim

E o que fizeram com esse mundo
Num imundo ato de covardia
E todo dia nós catamos segundos
Sorrindo menos do que a gente podia

Mas num momento tudo vai clarear
E vai passar como um filme ruim
Produzido assim de qualquer jeito
Apontando suspeitos deste grande estopim

E sempre que a razão vier me mostrar
Que o azar é pura imaginação
E que a sorte é gerada aqui dentro
Servindo de semente pra um nova estação

"Idealização"


Composição nº 773

IDEALIZAÇÃO
(R.Candeia - 29/03/2015)

A noite é um show irreal
É o ideal de um mundo bonito
Deixado de lado nos dias
Que são vividos no grito

A ilegalidade gentil comove
E remove as grades que limitam
E abreviam a vida em minutos
Já pensou porque todos se imitam?

Indo do bar ao posto de gasolina
Na pequena adrenalina de poder compôr
E pôr pra fora toda a alegria que se ignora
Vendo ir embora o mal que o dia vem impôr

A obrigatória realidade é a nossa maioria
Que nos pisotearia em passos de samba
Sem pena, sem drama ou amor, e na dor
Abriria a ferida para que a gente mesmo a lamba

Então, pra quê amanhecer de pressa?
Se não nos interessa uma rápida viagem
Nossa imagem é linda pra quem gosta
Não somos um quadro bosta pros olhares de miragem

"Lugar Estranho"


Composição nº 772

LUGAR ESTRANHO
(R.Candeia - 29/03/2015)

Como tudo isso foi acontecer?
Não reparei e nem percebi
Parece que muito bebi e acordei
Num lugar estranho, não sei

Tudo por aqui está vazio
Menos a minha mente
Será isso um aprendizado
Daqueles que marcam a gente?

Fechado em um mundo terrível
Fico por completo agoniado
Onde a sensibilidade é torturada
Pela razão do não explicado

Perdi o isqueiro, os fósforos acabaram
Deixando os cigarros sem alma
Não há palmas para esse espetáculo
Algo ronca em mim, perdi a calma

"Moléstia"


Composição nº 771

MOLÉSTIA
(R.Candeia - 26/03/2015)

Ter que encarar os ônibus aqui no Rio
É sentir de pé um frio na barriga
É ser espremido por todas as direções
A moléstia vira freira virgem nessa briga

Da janela longa vejo tudo parado
E o céu nublado refrescando favelas
E na poltrona amarela jovens fingem dormir
Deixando seus futuros na instável passarela

No fundo um som alto e chato
É como um parto seguido de assalto
Que é causado por não ter proteção
Numa ação sem respeito no ato

E com todos os tipos de passos seguimos
Como quem acredita nos jogos ciganos
Sem enganos sobre o que deve mudar
É pensar no vingar como o único plano

"Divã Noturno"


Composição nº 770

DIVÃ NOTURNO
(R.Candeia - 24/03/2015)

Nesta noite chorei dormindo
Por causa de um sonho
Que eu não consigo lembrar
Distração inconsciente sem tamanho

Nas noites analisamos a vida
O nosso divã se torna o travesseiro
No corpo inteiro relaxado e entregue
Assim se consegue o transe derradeiro

Mas tudo também se torna pior
Porque parecemos menos do que somos
Nunca fomos preparados pra entender
Que o perder não é nada quando levantamos

O dia, a hora perdida, o minuto ganho
O banho que desperta nosso amanhecer
Espeta e evita o crescer do que atrasa
Através de cada meta que faz tudo valer

"Impureza"

Composição nº 769

IMPUREZA
(R.Candeia - 24/03/2015)

Na imagem de uma flor-de-liz
As pessoas se camuflam feiamente
E de repente sorriem pra você
Não vá se perder nem vagamente

Poças escondem crateras mortais
Bem tais como louças engorduradas
Sujeira invisível a olho nu
Seriedade, tu és na verdade uma piada

E a fachada de madeira é forçada
Numa enguiçada tentativa de ser
Sendo um ator de previsível roteiro
Onde por inteiro, a comédia é sorrir e o drama é sofrer

No fim são pegos por suas armadilhas
Que são anilhas feitas de suas tristezas
E com suas destrezas de lesma
Ficam na mesma exalando impurezas

"Cuspindo Em Dádivas"


Composição nº 768

CUSPINDO EM DÁDIVAS
(R.Candeia - 24/03/2015)

O que eu faço não cai
Tem que derrubar com dinamite
O conforto gera custo
E não há susto que não se evite

E são tão cruéis de sangue
Todo esse efeito causado pelo futuro
E nos muros verdadeiras previsões
Nas ilusões macias de um golpe duro

E a gente pensa tanto
Ao ponto de ser irracional
Cuspindo em tantas dádivas
Celebrando todo o descomunal

O amanhã ainda não veio
E por ele, sem por quê, sofremos
Não temos tempo pra isso
Secar lágrimas, disso sim precisaremos

"Vergonha Funcional"


Composição nº 767

VERGONHA FUNCIONAL
(R.Candeia - 24/03/2015)

Padre bêbados, loucos, atropelam também
Num batismo em que os reféns, é a gente
Bondade carente de alguém pra viver
O sofrer é a atitude atual mais presente

E ninguém se entende mais por aqui
O repartir se resume só a violência
E toda paciência parece ter se mudado
O desequilíbrio é coroado por experiência

Estelionatos em todas as classes sociais
E nos jornais, fatos de vergonha nacional
Jeito quase formal de nos avisar
Que o enganar por aqui é bem funcional

Interesses pessoais acima da população
Ação peculata, projetos que despejam, descréditos
Nosso mérito é virar lata, e os bancos festejam
Quando o simples aceita de ti um "poder" inédito

"Nas Guimbas"


Composição nº 766

NAS GUIMBAS
(R.Candeia - 21/03/2015)

Alucinada na verdade vida
Pés descalços queimam e rasgam
O mundo rega julgamento
Após palavras gritadas talvez com razão

Seu coração bate desesperado
Talvez por saber que ainda bate
Olhares profundos pros valores rasos
Em seus vasos, só plantas mortas, o real rebate

Qual será a verdade de sua visão?
As ruas se tornam labirintos escuros
Seus gritos agudos voltam cortando
Alimentando o indigno por cima do muro

E seu maior prazer e gozo demorado
Se encontra nas guimbas jogadas de cigarro
Vagando entre carros e sem rumo
É o resumo de quem a vida trata como esparro

"Pedradas"


Composição nº 765

PEDRADAS
(R.Candeia - 21/03/2015)

A pedra nasceu antes de nós
Embeleza o quadro da vida
Mas nas mãos pode ser arma
Nos rins dói demais, é cilada

Desprezo a depredação do mundo
Nos seus cantos imundos de solidão
Fugindo então de suas casas
Numa caça cruel ao que é bom

Nas asas cortadas de ser quem é
Dando um tiro no pé aprisionando
A mando do ódio que se mostra
Na cara monstra do que é azedo

E o dia escurece mais cedo
Com medo de quem nele anda
É a ciranda torta e desafinada
Aterrorizada com toda essa onda

E a pedra acerta em cheio o alvo
Creio e salvo tudo que acredito
Benditos são aqueles sem barreiras
O mar invade a areia, impacto do meteorito

"Desporre"



Composição nº 764

DESPORRE
(R.Candeia - 21/03/2015)

Encho a minha cara para haver o desporre
Para desobedecer o porre que a vida
Às vezes faz questão de ser
Tentando convencer qualquer suicida

Não sei porque a felicidade incomoda
Inventam cada moda estranha
Porque se rotulam beijos de paixão
Numa corrupção mental medonha?

Beijo é beijo em qualquer boca
Quanta gente louca e sem noção
Ação desprovida de sabedoria
É o amor sem liberdade de expressão

Reacionários dos pensamentos belos
E apelam contra tudo aquilo que não são
Fazem sua votação, quadrados, entre si
O quadro daqui pede uma revolução

Pisam em flores, desmatam alegrias
Adoram plantar variadas dores
Com suas alergias às cores vivas
É a continência ativa aos pífios senhores

"Tua Melodia"


Composição nº 763

TUA MELODIA
(R.Candeia - 20/03/2015)

Nenhuma das flores que até hoje te dei
Eram jamais falsas, eu sei
Como também não são todas as batidas
Que fazem viver meu coração

Suas lágrimas, seus gestos, não serão em vão
Teus olhos, secos, brilham mais
E cedo, cedo, saberás que te amo certo
E que você corre em minhas veias

Nas corre da melhor forma possível
Como o melhor vinho ou whisky
Me fazendo enlouquecer dos melhores instintos
Não minto quando assumo que isso é bonito

Quero tua melodia em meus ouvidos
E tua imagem em minha visão
Nessa linda que sem querer construímos
Não quero ser o vilão

"Baixo Escalão"


Composição nº 762

BAIXO ESCALÃO
(R.Candeia - 20/03/2015)

O erudito passeia com o baixo escalão
Triste com muito amor de mãos dadas
Numa calçada de obra parada, sem peão
Quem será o vilão da realidade criada

A intolerância mora em todos os andares
E por todos os lugares diferentes da cidade
Tornando a moralidade perigosa e frequente
Dando de presente um "Kit atrocidade"

Peço isqueiro para adolescentes
Sem hipocrisia na porta da escola
A pior esmola que pode ser dada
É a negativa de fingir não ver nada

Vende-se almoço e compra-se jantar
E o moço já senhor ao se sentar
Não quer imaginar o que lhe resta de vida
Nem o alto preço da bebida, seu alívio é embriagar

E nas pontes caídas que fecham avenidas
Despencam o sonho da última prestação
Queimando à toa o valioso combustível
Deixando ainda mais perecível a desolação

"Imbecilidade Bestial"



IMBECILIDADE BESTIAL
(R.Candeia - 19/03/2015)

O caminho nas ruas é dolorido
Os ouvidos sangram com o caos atual
E com o sinal escurecem o colorido
Todo dia tem morrido tanto de forma banal

Juramentos de injúrias são arremessados
Neste momento amassado dado à nação
Junto ao rojão explode todo o ódio
E no pódio, com segurança, livram o ladrão

O congresso bonito de terno
E toda imbecilidade bestial
Incapacidade mental não gera dúvida
Visão estúpida de um egoísmo fatal

A democracia não é dura e nem macia
Não existe magia da santa honestidade
Muitos se fecham e fingem não ver
Que pra crescer, a reforma pro país é lealdade

Rodo pela cidade tentando procurar
Onde não achar um lugar pra se ferir
E sair berrando e cantando essa notícia
Separando maldade de malícia pra vida sorrir


"Intervenção Cerebral"



INTERVENÇÃO CEREBRAL
(R.Candeia - 16/03/2015)

Não confunda essa ditadura disfarçada
Com aquela ditadura escancarada
Nossas palavras ainda podem ecoar
Nos muitos meios que temos de se expressar

Se você vai na rua protestar
Contra a democracia do país
Pedindo uma intervenção militar
Sua idiotice é maior do que se possa pensar

Então, vá pra rua lutar e berrar
Pela volta do direito de se calar, na passeata
Com suas coxas pequenas sofríveis
Soltando frases incríveis, proibido a errata

Protestar pela volta de um regime
Que oprime e proíbe o protesto
É admitir uma bizarra ignorância
Toque de recolher, escondam-se com suas crianças

É conviver com sumiços, sem gritos
Bocas amordaçadas e liberdade chocada
E chorar na calada da noite calada
E sem fazer nada, ver quem se ama, não voltar

"Assim Mesmo"


ASSIM MESMO
(R.Candeia - 10/03/2015)

Nossas cabeças são pedaços de infinito
E no grito qualquer laço vira nó
Andar só nunca é sempre tão bonito
E no agito a tristeza vira pó

Me dê ao menos uma notícia boa
Aqui o que destoa são bons pensamentos
No lamento não existe evolução
Essa vida é um celeiro de momentos

Ver é bem diferente de enxergar
E nem sempre a palavra diz
Numa guerra feita em libra e braile
É não livrar um baile do final infeliz

O sofrimento nunca vai curar ninguém
Por isso sem, cura vou vivendo
Querendo sempre mais em cada esquina
E nas doses e vacinas vou crescendo

quinta-feira, 16 de abril de 2015

"Três Lugares"


TRÊS LUGARES
(R.Candeia - 05/03/2015)

Nesse pequeno espaço de tempo
Encaixo e vivo um breve infinito
Na particularidade plena de minhas partículas
Sei que muitos levam isso como mito

Nos meus tragos e goles
Trago o que ninguém engole
Não embole plano com simples circunstâncias
E a relevância disso é quase nula

Três lugares vazios mas não há frio
Amo demais isso com o pé atrás
Numa emboscada contra o meu cansaço
Tudo que faço é preencher minha paz

E na cerveja gelada e sem colarinho
Me refresco e peço um isqueiro a um vizinho
Então me alivio na poluição do filtro branco
Viajando nesse litro lindo e brando

"Bom Dia Brasil"



BOM DIA BRASIL
(R.Candeia - 26/02/2015)

Onde está o contador do Brasil?
Cadê o gerente que não aparece?
Tudo ao avesso sem algum nexo
Que até o ateu fez sua prece

Já não tem nem mais tanta água
Daqui a pouco pagaremos pelo ar
Fome, violência e agora malária
Só o povo que não pode se animar

Na ação, pesos e medidas diferentes
Gabinetes caros e seus luxos puros
Pro povo duro é o lixo que sobra
A nação se dobra e ainda paga os juros

Até um juiz aqui é uma piada
Trocando sua imagem por dinheiro
Num plano pago por um triste bilionário
Fazendo de otário tudo quanto é brasileiro

E a arma ainda está em nossas cabeças ...

"Mil Murros"


MIL MURROS
(R.Candeia - 25/02/2015)

Estou sem paciência até comigo
Até com minha falta de paciência
Quanto mais com a boba demência
Dos seres chatos ou um ridículo inimigo

Meu interior grita alto pra mim
A vontade de explodir me domina
Mas eu não imito nenhum homem-bomba
E o que me assombra ninguém imagina

Quero das mil murros em muros
Mas minhas mãos são muito sensíveis
Preferem escrever do que agredir
Se o ruim me chama, finjo não ouvir

"Milagres" caem fácil como bêbados
Com seu forte gosto de whisky escocês
Podem cair sobre mim, não reclamo
Mas eu nunca paguei a "prestação" do mês

"Delicadeza Bruta"



DELICADEZA BRUTA
(R.Candeia - 25/02/2015)

Palavras ferem, curam, derrubam
E também levantam qualquer situação
Até na bruta delicadeza de um sonho
Aumentando o tamanho entre o céu e chão

Atitudes tomadas são sonhos realizados
Expondo o retardo do que há em sua volta
E naquela porta que bate e se fecha
Não passa a flecha feia que mata e revolta

Depender só de si é ter asas pra voar
É não querer esperar por um triste fim
Relaxado no sofá sem expressão facial
Feito um boçal com seu balde de capim

Mas assim são esses tempos inúteis
Parindo sempre fúteis problemas
Esse é o edema que mais marca na vida
Que deveria ser uma festa dividida em temas

"Teatro em Chamas"


TEATRO EM CHAMAS
(R.Candeia - 20/02/2015)

Pulmões pesados, cabeças quentes
Amigos decepcionando com mau humor
E indo embora muito mais cedo
Jogando a culpa disso depois no clima

A chuva caiu tampando o sol
E escondendo o cenário do paraíso
Não lavou e sim sujou a esperança
Numa dança não ensaiada pela vida

A "loucura" foi desvendada assim
O errado falou mais alto e gritou
Nos cochichos trancados nos quartos
Criando um mito inverso do que deveria

O ar fresco reinou triste na casa
Numa caça armada à felicidade
Nas mãos trêmulas se via o desespero
O exagero de zelo e frescor virou crueldade

A consideração se perdeu pelos blocos
E deve ter se atolado em lama
Quando só se reclama, não se sorri
E o que vi foi um frio teatro em chamas

"Visão Distorcida"



VISÃO DISTORCIDA
(R.Candeia - 11/02/2015)

Teus olhos enxergam mais que a realidade
Causando uma visão bem distorcida
E a ferida que não se deixa cicatrizar
Sangra eterna afogando a vida

Como vamos nos salvar disso tudo?
Desse filme de terror agonizante
O nosso melhor hoje está na estante
Em fotografias de um tempo que é preciso

Julgamentos quase sempre são errados
Principalmente pelo lado alguma vez sentido
O perdão não pode ser só de fachada
Anulando a vitória do que parecia perdido

Dos sonhos ao lado médium tudo vira prova
E parece que nada se renova a cada manhã
O passado não vive no presente, e quando é assim
Enfim, fica ausente a esperança no amanhã

"Ameaça Demente"



AMEAÇA DEMENTE
(R.Candeia - 09/02/2015)

O covarde abuso de poder fere
E interfere na clara visão do ser
Sendo oprimido pelo velho medo
O segredo é não deixar acontecer

Caras mal lavadas que dão nojo
Nos estojos maquiagens de palhaço
O estilhaço da vida cai sobre nós
Subindo os nós até nossos pescoços

Ameaça de mente
Sua demência não mente
Ameaça demente
Tua cara feia é carente

Não vivo apenas pra sobreviver
Minha boca não foi feita pra calar
Não baixar a cabeça trás consequências
Mas toda essa demência precisa acabar

Não vou me escravizar por miséria
A mim ninguém vai molestar
Minha mão agora se prepara pro soco
Caso o louco venha me ameaçar

"Entulhos"



ENTULHOS
(R.Candeia - 04/02/2015)

Mil tiros de palavras furadas
Perturbação e canhões e inúteis
E fúteis tentativas de fugir do que é seu
Tudo está podre, cuidado, tocou cedeu

E por aí toda babaquice vai
E a careta é pior que a caretice
Chegou em mim e disse gritando
Então, me defendi na hora atacando

O mundo é muito estranho e confuso
Os parafusos de enferrujados quebraram
E o humano por não ser robô leva a culpa
Nessa treva turva os trevos murcharam

Tudo de simples é tido como crime
Mas o robô não se oprime à falta de razão
As mãos do mundo só batem , os olhos ameaçam
Encostos só os invisíveis, viva a perda de noção

"Fina Fuga"


FINA FUGA
(R.Candeia - 02/02/2015)

Novas notícias velhas que chegam
E aconchegam teu lado carente
O que é ausente esconde o bom
É como um sorriso sem dentes

A vida é um encanto único
E como qualquer canto desafina
Numa fina fuga de si mesma
Nessa troca de momento repentina

O definitivo é o tédio evoluído
Mas o poluído é o que morre na metade
Nessa vida nunca se é tarde pra viver
Anos ou segundos, faça sempre sua parte

E os teus dias agora nascem diferentes
E novo sol pra ti vem brilhar
Mas o brilho é da luz que faz a sombra
Mãe da escuridão que virá sempre te olhar

"Pão e Vinho"



PÃO E VINHO
(R.Candeia - 30/01/2015)

A imaginação é um remédio gratuito
Que todo mundo sempre deveria ter
Mas aquela que gera coisas boas
E não a que faz você fingir viver

Passos planejados é um banho de sol na prisão
Nossas mãos podem alcançar muito mais
Então não ignore o desconhecido
O pior falecido é o que nada provou jamais

A gente só vive pra gente quando dá
O desperdício próprio é o real pecado
E prova que a vida é diferente das fábulas
Que encabula o saber e esse é o recado

O pão e o vinho são sensacionais
Mas só nos oferecem o vinho e sem álcool
Que é a pior e mais chata das realidades
Vamos podar e pôr fim e essa santa crueldade

"Tempero da Moda"



TEMPERO DA MODA
(R.Candeia - 21/01/2015)

Fico o dia inteiro puro e enlouqueço
Peço um cigarro ao porteiro
E fumo um Derby com todo prazer
Girando ao contrário os ponteiros

O tempero da moda é o desespero
E nada espero de ruim em mim
Já me basta este tempo em que vivo
Fico sempre ativo ao veneno em meu jardim

Não grito por aí de dor e de medo
O segredo de não sofrer é encarar
E reparar no que vale na vida
Que só é perdida se a gente parar

Navalhas atacam por todos os lados
E no tecido cortado escorre esperança
Nessa dança covarde que nos invade
Forçando passos que ficarão na lembrança

"Pulsação"



PULSAÇÃO
(R.Candeia - 21/01/2015)

As mãos do mundo nos puxam
Não há carinho dela por nós
Seus braços são feitos de cacto
Nesse pacto, nossas tripas viram nós

O coração segue numa forte pulsação
Que bate de acordo com a felicidade
O mundo vem derrubar e basta você saber
Que o melhor de viver beira a insanidade

Ter um ombro certo é a melhor sensação
Poder dar as mãos também pela alma
Numa calma tão bela que isola o mundo
Num show completo que merece palmas

Cuidado com as pernas do mundo
Sua rasteira é longa e quase fatal
Pro mal não se cobra nem um centavo
Acordo e não me travo em posição fetal

"Errata"


ERRATA
(R.Candeia - 20/01/2015)

O paraíso aqui na terra
Está em nossas mentes
E mora ao lado do inferno
Fontes de aguardente

O puro pulo pra sublimação
E a reação franca e imediata
Nem tudo está em nossas mãos
Só quem se garante assina a errata

Me mostro do jeito que eu nasci
Sem pudor, dor e narcisismo pleno
E até o sereno foge de mim
Porque no fim envergonho o obsceno

A vida não precisa de tantos conceitos
Que de qualquer jeito são antecipados
Pelos reis de seus próprios jardins
Com fins lucrativos para os seus retardos

terça-feira, 14 de abril de 2015

"Golpe Rápido"



GOLPE RÁPIDO
(R.Candeia - 07/04/2015)

A balança desequilibra demais
Parece que em mim tudo vem mirar
Mas não estou parado esperando
Tudo por milagre melhorar

Nessa vida somos apenas inquilinos
A chegada vem antes da partida
É a invertida ordem que explica
E suplica pela emoção contida

O mundo tem cara de diarréia
E eu agora, sem nada, o acato
Sou pacato, mas não otário, garanto
Por enquanto sou bicho-do-mato

Não precisam guardar cadeira
Levantei minha bandeira branca
Não se arranca o que eu tenho
E por onde venho nada se tranca

"Transição"


(Composição nº 785)

TRANSIÇÃO
(R.Candeia - 09/04/2015)

Nesse dia ainda bem calmo
Com sua manhã em que a lua aparece
E enaltece nua sua realeza
Me guio na beleza da meta que enriquece

O céu está como a minha mente
E sinto que o dia sente esse clima
E libera por cima a transição das fases
Que são vorazes obras-primas

E na minha ansiedade incendiária
Caio numa numa otária desanimação
Numa distração que perde campeonato
É o estelionato de concentração

Mas a certeza eleva o meu desejo
E lembro do beijo que selou o bom dia
Que antes se perdia na acomodação
A doação de si só faz receber alegria


"Placas"



PLACAS
(R.Candeia - 27/02/2015)

O embaraço ao dizer o que pensa
O nó na garganta tranca o pranto
O espanto é não querer ser feliz
Cultivando o inferno em cada canto

O tratado de paz merece ser assinado
Mas a bandeira branca deve se hastear
A estupidez gera tanta cegueira
Pra numa chuva de besteiras se afogar

Assopre as nuvens negras pra longe
Pra perto de um monge que não liga pra nada
A mente é estrada, ideias são placas
Toda essa sucata pode ser reciclada

Só não tente me convencer com uma arma
Não preciso disso pra saber o que quero
E não me desespero quando fico na dúvida
Como um relógio, o ciclo natural é o que espero

"Transparência"



TRANSPARÊNCIA
(R.Candeia - 06/04/2015)

Minha transparência vai tomar a cena
E uma hora alguém vai perceber
Me sinto numa arena com leões
E nas multidões vou desaparecer

Palavras pesadas, olhares de ofensa
Como uma imprensa sensacionalista
A lista triste é bem pequena
Mas me engrena de forma realista

Não quero sufocar mais ninguém
Com essa minha falta de ar
E não ligar mais pro desespero
Acabou o tempero, o jeito é salgar

Encha o balde e jogue água
Numa corrente afogando o que não presta
E o que me resta é o invisível
Nesse incrível momento que me testa

Acabou de vez o papel pra rascunho
Fazendo as anotações saírem pelo ralo
E em cada punho sustento o meu mundo
Sem o deixar cair sobre o meu calo

"Dormência"



(Composição nº 786)

DORMÊNCIA
(R.Candeia - 14/04/2015)

O que não derruba, saiba, favoreço
Esqueço o ruim e logo vou em frente
O entorpecente fica louco comigo
Porque em meu abrigo tudo fica dormente

Sei claramente o que nos escurece
E tudo que carece de atenção
Minhas mãos viram fazendas
Me entenda, mesmo que na ilusão

E nessa triste demência
O vácuo se reflete nos espelhos
Em fotos que parecem repetidas
Com expressões que dispensam conselhos

Carrego o mundo cheio em meus bolsos
Não faça alvoroço quando minha calça cai
E tudo vai arrumado de encontro ao nada
Plantando granada na porta de quem sai

Não ser burro muitas vezes é burrice
Queria ignorar tudo que disse o sábio
E como muitos viver numa cápsula protetora
E não saber nem o que sai dos meus lábios

E nessa triste demência
O vácuo se reflete nos espelhos
Em fotos que parecem repetidas
Com expressões que dispensam conselhos