sábado, 28 de outubro de 2017

"Quem Somos"



Composição n° 984

QUEM SOMOS
(R.Candeia - 28/10/2017)

Sei muito bem acabar com qualquer dia
É só tentar acabar com o meu
A perfeição passou longe de tudo e de mim
E o fim cabe em todas as páginas

No cigarro aceso a tristeza do pulmão
Mas no chão os pés apertam os passos
Qualquer ondulação é brincadeira
E qualquer besteira pode ser guerra

Nada enterra nenhuma sensação
O desperdício da falta de ar
As esquinas chamam pra escuridão
E o alarme de perigo grita louco

A desafinação é o segredo dos deuses
Não precisa de tom na música inventada
Até porque na estrada tudo é incerto
E o que fica perto é apenas a dúvida

A multidão se mistura numa síndrome
E o sentar na calçada alivia a tensão
Fechar os olhos apaga aquele segundo
Nesse mundo onde procuramos quem somos

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

"Falando Grego"



Composição n° 983

FALANDO GREGO
(R.Candeia - 27/10/2017)

Flores mal plantadas
São mal colhidas e escolhidas
Para dar o exemplo distorcido
Tenho torcido tanto pelas sombras

Lá não me asso e ainda sobrevivo
Enquanto revivo criações internas
Nossa guerra pode ter armas que salvam
E ressalvam tudo quanto é existir

Parece que estou falando grego
O medo virou normal e plano de governo
Nesse inverno seletivo que massacra
Pelas caras feitas só pra se cuspir

Ou fala ou engole, sem pombo correio
Nesse tiroteio astral que danifica e tonifica
Toda essa fraqueza de compreensão
O que não é semelhança também não é aberração

Meia dúzia de mentes movem milhões de vácuos
E ainda crêem nos milagres de olhos azuis
Da pele branca sedosa do deserto escaldante
Certeza alucinante do claro e vulgo superior

Parece que estou falando grego
O medo virou normal e plano de governo
Nesse seletivo inverno que massacra
Pelas caras feitas só pra se cuspir










quinta-feira, 26 de outubro de 2017

"Câmara (De Gás)



Composição n° 982

CÂMARA (DE GÁS)
(R.Candeia - 26/10/2017)

Vou me tornando uma ópera
Tão fabulosa, mas real e inescrupulosa
Não há prosas ao ar vulcânico
Nesse pânico na pátria escandalosa

Operários do falso encanto divino
Como se fossem peregrinos gritam
E não aliviam devido ao timbre franzino
Onde o libertino pelo pescoço agitam

Seguindo as escrituras
Deus salvou foi Marte
E esqueceu da terra
Porque morte e guerra
Só onde tem humanos
(Não acredito que isso foi um plano!)

E nesse erro de cálculo não falado
Ficamos de lado assistindo, lindos
À todas as paisagens possíveis
Com nossos infalíveis fracassos

Fatalidades não são farejadas
Por olfatos empoeirados que muram
E miram e murram despedaçando
Enfatizando tristezas que nos surram

E o pato foi passear...








quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Música: Fique





Mas uma música feita, dessa vez em parceria com essa amiga e bela artista Rani da Silva, vocalista da banda Dellacorde, que conseguiu traduzir bem os sentimentos que tentei expressar nessa letra-poesia. Obrigado Rani, minha amiga...

Fique
(Letra: R.Candeia/ melodia: Rani)

Tudo de belo guardado pode ser revivido
E o que é bonito eu digo que não morreu
Sinto a respiração ofegante dos meus sentimentos
Nada de lágrimas ou lamentos
Nessa história que nasceu

E o toque cortante que arrepia a pele
E a companhia e as risadas bobas que superam
Faz ancorar no nosso peito
O nosso direito de perdoar

Não quero que vá embora
Levando em si
Tudo aquilo que sempre sonhei
Eu transbordei todo o meu melhor
E quando veio o pior não reparei (não reparei)

E as conversas que perfuram a madrugada
Refazendo a tristeza em cores
Com o fim das dores
Que cortam a alma

Não quero que vá embora
Levando em si
Tudo aquilo que sempre sonhei 
Eu transbordei todo o meu melhor 
E quando veio o pior não reparei (não reparei)


terça-feira, 10 de outubro de 2017

"Poema Não Acabado"




Composição n° 981

POEMA NÃO ACABADO
(R.Candeia - 10/10/2017)

E o dia-a-dia arrepia epidermes
Por tantos vermes soltos e falantes
Atacando nos instantes de distração
Numa medievalização preocupante

Ter onde se agarrar não é proibir
E nem coagir o jeito de ser de cada um
E quando se é debatido com fontes
Falam aos montes com sentido nenhum

Criam demônios como desculpa
Pra sensação de culpa interior
O exterior não pode saber de nada
Cartilha decorada com todo temor

Mesmos ideais que causam as guerras santas
Destas bocas sofríveis que o tempo rechaça
Diante das tantas contradições terríveis
Chegam a agradecer até pelas desgraças

E isso é uma maneira de identificação
Quem louva execução a direção é o hospício
Nesse desperdício de ar puro daqui
Onde até Dalí os pintaria em precipícios

O beijo e o amar na liberdade incondicional
Causa tão mal pra essas caras ruins de foda
Ser livre não define e nem tira caráter
Catéter contaminado no peito de quem poda

Mundinhos fechados vivendo a grande farsa
Nessa farpa enfiada no dedo que chamam de vida
Intromissão indevida, versículos ambulantes
Amantes da incoerência e da opinião não pedida

Almas perdidas em caminhos que julgam certo
Decretos escritos em pedras com sangue e pena
Cuidar é apenas questão de amor e não encaixe
E não há quem relaxe diante dessa triste cena

Artistas expõem as fraturas internas
Dessa gente terna que exclui sutil
E raciocina de um jeito senil pra explicar
O porquê de isolar assim tão pueril

Presos os professores, diretores e alunos
Num espetáculo uno que dispensa multidão
Há bomba e não dança de salão pra sonhar
Que termina a cada estourar sem compaixão

Caçadores que só enxergam o inexistente
Olhar carente sob o medo do conceito criado
Pensar condicionado e controlado por movimentos
Que são tão alegres dentro de seus cercados

E digo, esse poema pode ainda não ter acabado ...










sexta-feira, 6 de outubro de 2017

"Retinas em Rotina"



Composição n° 980


RETINAS EM ROTINA
(R.Candeia - 06/10/2017)

Ruas trancadas e explosões vivas
Numa nada criativa crença bélica
Girando entre pombas e jardins
Com pungentes fins em crianças gélidas

Espíritos bagunçados de forma sagrada
E o grito de aviso da calçada ecoa
E não perdoa por quem esqueceu a atenção
Porque na contramão a história ressoa

Elogios invertidos em todas as classes
Se o tempo falasse ele nos xingaria
Nessa drogaria de vidas em receitas
Somos a caça perfeita dessa artilharia

Nequícia como enfeite na pele abatida
Paisagens possíveis nas vertigens reais
Nesse trem embriagado por trilhos trágicos
Antropofágicos tomando seus sais minerais

A última inocência não é encontrada por timidez
Nessa divina nitidez de santas covardias
Plantada na apatia dessas grossas vistas sem retina
Numa rotina cancerígena que fere os dias





quinta-feira, 5 de outubro de 2017

"Veneno Tragado"




Composição n° 979


VENENO TRAGADO
(R.Candeia - 05/10/2017)

A fraqueza cerebral dá vida à moral
Nesse sinal quebrado fechado
A vida não é resultado da ação
Auto louvação no espelho rachado

Mosca bêbada sobre o mictório
E nos escritórios tristezas pra resolver
A mudez escrita sem ortografia
Nessa pornografia do não entender

E agora eu não sei
Se é judeu ou libanês
Mas nas loterias da vida
Tem gente que perde a vez

O veneno é todo tragado a seco
E nos infernos concertos iludem
Por entre blasfêmias tão gloriosas
Onde crueldades charmosas reluzem

Somos a epidemia, a febre e o vírus
E não esperamos as hirus no além
Porque não somos reféns penitentes
Soprando pelos dentes os moldes do bem

E agora eu não sei
Se é judeu ou libanês
Mas nas loterias da vida
Quase todos têm sua vez


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

"Lisura"



Composição n° 978

LISURA
(R.Candeia - 04/10/2017)

Conhecemos nossas formas de longe
Nada constrange o que é sincero
Não espero por nada que não virá
A vida não pode ser como um clero

Nefasto atropelamento de olhares
Contradizendo circulares soturnas
Que tentam pôr em urnas tudo aquilo
Que advém das conquistas noturnas

Na lisura de um romantismo
Em nosso anacronismo perfeito
Fomos eleitos por votos diretos
Direto do núcleo do peito

O calor da pele não repele o verdadeiro
Daquele derradeiro e átimo encantado
Passos cruzados e esbarrõess garbosos
E depois estrondosos poemas recitados

O sorriso como prêmio com a resposta vinda
Na linda esperança que não cansa e cega
No abraço que aconchega os sonhos
Matando os enfadonhos traços que carrega

Na lisura de um romantismo
Em nosso anacronismo perfeito
Fomos eleitos por votos diretos
Direto do centro do peito












segunda-feira, 2 de outubro de 2017

""Conservantes""




Composição n° 977

"CONSERVANTES"
(R.Candeia - 02/10/2017)

Conservando a miséria do ser
Do não pensamento estimulante
Sendo objeto em estantes antigas
Comprando cantigas massantes

Vivendo sendo tudo que se critica
E de forma intrínseca se engana
Se arrastando à paisana pela vida
Não enxergando sua ferida insana

O ateu se ajoelha e reza
E preza pelos velhos costumes
Vagando por um mar aberto
Se alimentando de multiplicados cardumes

Nem todos têm direito à perícia
Mas querem a carícia de seus algozes
Sendo atrozes com seus reflexos
Não vendo nexo no tom de suas próprias vozes

O ateu se ajoelha e reza
E preza pelos velhos costumes
Vagando por um mar aberto
Devorando multiplicados cardumes