quinta-feira, 30 de novembro de 2017

"Alteamento"



Composição n° 989

ALTEAMENTO
(R. Candeia - 30/11/2017)

O tédio tarado por tristeza mata
No fundo ninguém conhece a si mesmo
Cada dia descobrimos mais sobre nós
Em atitudes jamais pensadas ou sonhadas

Não ser covarde é questão relativa
Depende do ponto de vista e ocasião
E a denominação na ação interpretativa
Nessas tentativas que forçam a frustração

O abraço não pode deixar escapar o calor
A barra atirada pra cima volta
Numa ação que dizem não existir
O elixir da vida quando fede revolta

Verticalizando a dobradura existencialista
Temporo-espacial posterior
Moro lá na última gaiola
E meu quintal passa a ser o exterior

Jornais em estados de calamidade pública e privada
Estados em jornais de calamidade pública e privada
E sabe aquela barra atirada não a esmo e não salvou
Isso mesmo, volta alvejando quem mirou

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

"Sádica Benevolência"




Composição n° 988

SÁDICA BENEVOLÊNCIA
(R. Candeia - 22/11/2017)

Demagogos e hipócritas de plantão
Oportunistas, vampiros, vírus, odores
Oradores e moralistas de ocasião
O idiotismo não entende nem sua contradição

Indiretas no ar resumem o nosso momento
Coices de jumento sem argumento
E na cabeça o vento que não sopra
Desses Lorpas infanto-juvenis tão hostis

O lado mais obscuro da vida é aquele
Que não se conhece ou tem medo
Sentindo o gosto azedo de levedo
Fazendo de brinquedo até a coisa mais bíblica

Não entorne essa aguardente assim
Deixando vazar por entre todos os dentes
O prazer doente de ser fiscal de tudo, tudo
Tudo aquilo que não te pertence

A desordem é sagrada quando não se encaixa
Nesse quebra-cabeça que se monta na ordem
Agora entornem no chão suas águas paradas
Estagnadas do tempo de caridades carentes

Masoquismo que começa na frente do espelho
Dores alheias não são dores se não lhes doem
Úteros que choram sangue por causa de intrusos
Sádicos e os abusos de suas benevolências








terça-feira, 21 de novembro de 2017

"Quadro Esquálido"



Composição n° 987

QUADRO ESQUÁLIDO
(R.Candeia - 21/11/2017)

Se enforcar com a própria língua
Sinal vermelho no tiroteio
E o segundo disperso pode ser teu vilão
Essa vida ainda não disse a que veio

Adrenalina e incerteza juntas
Numa dança mal ensaiada
Calçadas como passarelas que mostram
O que é nossa pífia moda

Perdem-se tanto tempo desconstruindo
Que acabam não construindo nada
Ociosa cilada da desintelectualidade
Por tantas cidades ideias exiladas

Frases simples e feitas se tornam mágicas
E iludem os acéfalos mitológicos que batem cabeças
Aproveitando a falta de comida
Devido a prestação de seus aumentos de classe

A intervenção já existe onde não há saneamento
Olhares nojentos feito navalhas enferrujadas
Rasgam e giram nas carnes apodrecidas
Por falta de interesses e cuidados

O milésimo como prova de sobrevivência
A moradia como alvo constante
E julgamentos cortantes vem velar
A honra de quem tem o peito perfurado
(Por projéteis piores que a solidão)

terça-feira, 14 de novembro de 2017

"Pão Mofado"



Composição n° 986

PÃO MOFADO
(R.Candeia - 14/11/2017)

Em cada pão mofado encontrado
Está um pouco da tristeza imposta não vista
Que se curva a cada conquista
Daquele que lhe tira tudo e sua carne belisca

Trejeitos de um tempo em que a maldição
Mora na mente e mexe com o corpo que não resiste
Enganando olhares e alterando sensações
Dando vida a frustrações que nem sempre existem

Pão mofado engolido a seco
Em becos teu sangue livre corre
De tanto ódio distribuído
Nesse mundo perdido que tudo morre

Esquecendo um lugar em cada coisa
Humano que é humano não confia em humano
Limpando com pano sujo manchas e pistas
Reprovado na entrevista com o mundano

Fugindo para a melhor das fugas
E a melhor das rugas é feita pelo sorriso
Aumentando a cotação p'rum coração quebrado
Desobedecendo as placas de aviso

Pão mofado engolido a seco
Em becos teu sangue livre corre
De tanto ódio distribuído
Nesse mundo perdido que tudo morre





sexta-feira, 3 de novembro de 2017

"Errata da Paixão"


Composição n° 985

ERRATA DA PAIXÃO
(R.Candeia - 03/11/2017)

Nos traços e instintos famintos
De uma louca paixão descarrilhada
Matéria ferrada de uma mente cega
Que se entrega à insanas ciladas

Os olhos procuram o olhar que se desvia
A boca que quer o beijo procura sem sentido
A boca do escarro gratuito
Diante de cada grito interno não medido

A noite cai invadindo o sol sem licença
E sem a mínima decência o controla
E tudo se embola de forma covarde
Nessa vida infiel que arde e cantarola

As cicatrizes não dão o certo aviso
Estimulando e ignorando qualquer errata
Enorme passeata sobre o coração
Indireta coação, desejo escravocrata

Esmolas e migalhas satisfazem por segundos
É o pouco como bela recompensa
Por cada dose dupla de ofensa engolida
E a carne viva é ungida pela indiferença