sexta-feira, 30 de junho de 2017

"Anulação"



Composição n° 964

ANULAÇÃO
(R. Candeia - 30/06/2017)

Num jogo previsível de cartas marcadas
Está armada toda a contravenção
Toda paixão pela cifra escancara
E só mascara pra quem não conhece a visão

Cadeiras numeradas e presentes secretos
E não há decreto que faça tudo parar
Tentar se salvar é um sonho perdido
E com pés ardidos a nação começa a sangrar

Juízes amigos com seus martelos de Thor
Onde o pior está sempre por vir
Jaz aqui na terra vendida a esperança
Que por ganância veio a falir

Carreiras intactas são absolvidas
Não se ligam pras vidas postas em xeque
Antigos cheques se transformam em malas
E em dentro de salas viram manchetes

Mas mesmo assim não dão em nada
E na estrada trancada nova arrecadação
Então a constituição é rasgada
Nessa festa bancada por tanta anulação




quinta-feira, 29 de junho de 2017

"Movimentos em Gesso"



Composição n° 963

MOVIMENTOS EM GESSO
(R. Candeia - 29/06/2017)

O moralismo corre a maratona
Que vem à tona triste em cada frase
Como derrubar os pilares
Se nem ao menos temos base

O dedo julgando de dentro do quarto
Mal desses partos que deram certo
Só ficam perto de telas luminosas
Leguminosas de livro semi-aberto

O crime real está em suas caras
E em suas taras pela ordem e progresso
Movimentos em gesso buscando a luz
Replicando às margens plácidas o inverso

Engraçado decifrar as suas mentes
Deitados eternamente em seus berços
No esplendor de suas dores tão banais
Desejam soluções fatais e beijam terços

Até seus refúgios fogem de si
Correndo dessa praga de epidemia
Sufocados em agonia descontrolada
Criam ciladas e determinam o que é alegria




quarta-feira, 28 de junho de 2017

"Impressões"



Composição n° 962

IMPRESSÕES
(R. Candeia - 28/06/2017)

Sonhamos com a infinitude do tempo
E há o finito que só tende a perturbar
De casa, do bar, analiso o sistema
Eu não penso em temas pra filosofar

Se vende tantas horas em busca do sucesso
E se fica preso sem ver a cor do céu mudar
Tudo pra juntar o suor dentro de cofres
Exalando enxofre pra tentar perfumar

A estimulante ideia de incerteza é inquieta
É peculiar todo e qualquer tipo de exposição
Nossa ilusão é encontrada em abismos
Nas curvas do cinismo esquecem a velha razão

Imagens impressas em mentes criativas
Durante noites reflexivas que testam o ser
É a neurose da sanidade martelando
Tornando tudo um claro prazeroso sofrer

Quanto valem esses tempos diante do instinto
Quanto vale nosso tempo, diga
Prossiga guardando até secar aquela gota
Que por toda sensação mendiga








quarta-feira, 21 de junho de 2017

"Intelecção"



Composição n° 961

INTELECÇÃO
(R. Candeia - 21/06/2017)

Em porres mágicos de amor e crueldade
Recomendo remédios letais
E misturo insinuados com inusitados
Todos incitados excitados tão vitais

Meu silêncio pleno cria tantos ecos
Vindo de conhecimentos que beiram
Todo inconsciente secreto que flagra
A mística maré e todo ponto que queiram

Poetas bêbados escrevem pelo ar
Palavras que na hora não precisam entender
O nascer dos sentidos exalam
E não falam nada que faça a luz acender

A incerteza estimulante deixa retumbante
Pro sortilégio mumurros ao pé do ouvido
Sobre essa comunidade neutra e inodora
Que em nenhuma hora mostra ter vivido

Novos traços são procurados às cegas
As pregas do mundo se afrouxam de vez
O anseio contraposto e imposto respira
E pira a cabeça de peões que defendem reis

Poetas bêbados escrevem pelo ar
Palavras que na hora não precisam entender
O nascer dos sentidos exalam
E não falam nada que faça a luz acender




quarta-feira, 14 de junho de 2017

"Ideais de Asilo"



Composição n° 960

IDEAIS DE ASILO
(R. Candeia - 14/06/2017)

Beijos e cuidado na rua
Porque tua poesia é tão sincera
Nosso livro espera tanto a cada folha
A escolha da ideia mais singela

Capítulos são histórias fatiadas
E as cidades sitiadas nos condenam
A massa é manobrada e confeitada
E o domínio utiliza os que não pensam

Cuidado na rua e se proteja
E bata palmas para todo entardecer
No destilar o veneno tão barato
Que sai caro e não consegue convencer

Não deixe parar esse tempo esquisito
O grito vazio abafando o de socorro
No peito, no morro, olhares de confusão
E na mão o teclado da justiça faz o esporro

Cuidado com a réplica que vem cortando
De forma cega dando mais vida ao aleijão
Dessa geração sem visão e umbigo
Que carrega consigo toda a aberração









terça-feira, 6 de junho de 2017

"Efeito Colateral"


Composição n° 959

EFEITO COLATERAL
(R.Candeia - 06/06/2017)

Minha cabeça dói como se fosse
Meu primeiro contato com a luz do sol
Tudo em prol de um véu descoberto
Desses rostos que ignoram reflexos

Faro sob faróis que não se apagam
Que do conforto assistem ao confronto
Ainda mais interno de uma juventude
Cheia de atitude contrária à eles mesmos

Vagando com ideias vagas a esmo
Em discursos anômalos que normal é banal
Quando teremos a chance de nascer
E não herdar todo esse efeito colateral?

O desaforo privilegiado dá cor as nossas veias
E é o que rindo tateia nossa cara
Tentando entender o motivo por qual
Contestamos essa perigosa e estranha tara

A insegurança que nos protege impede
A nossa livre passagem que simples seria
É a paz não encontrada ao chegar em casa
A prática diverge de qualquer teoria

Vagando com ideias vagas a esmo
Em discursos anômalos que normal é banal
Quando teremos a chance de nascer
E não herdar todo esse efeito colateral?









quinta-feira, 1 de junho de 2017

"Golpes"


Composição n° 958

GOLPES
(R. Candeia - 01/06/2017)

Todo esse clima tenso suga o tempo
Quase ninguém atento ao que diz
E nada condiz com suas realidades
Dessas cidades vazias o mapa refiz

A guerra entre pedras e a agressividade
Muita lealdade a regressão por perto
Sinal fechado é aberto pelo que sobrou
De uma era que escolheu o seu certo

Tensidade é turbulência da intensidade
E nenhuma insanidade ama o tarja preta
Isso concreta toda percepção distorcida
Alterando a partida em golpes de caneta

Olhares retos sempre para quem somos
Numa ampla aceitação limitada
É a cilada tratada feito salada colorida
Nessa longa estrada percorrida e ignorada

A nostalgia ganha vida num presente assassino
O badalar dos sinos mostram coisas demais
Na frente no tempo mas atrás em tudo
Esse é o nosso mundo girando pra trás