quinta-feira, 30 de julho de 2015

"Futuro Arqueológico"


composição nº 825


FUTURO ARQUEOLÓGICO
(R.Candeia - 28/07/2015)

Planos provisórios escapam bêbados
Combinados fora do efeito da natureza
Numa esperteza de um ladrão entalado
Que é condenado por todos na avareza

Esse mundo não é doce, é feio e burro
E se vive dando murro em ponta de votos
Em fotos desbotadas em que a beleza falta
Por quase ressuscitando Augusto Malta

E nesse egocentrismo inverso e diferente
Pouco se sente qualquer coisa natural
Falsidade ideológica é a sinceridade cômica
Que come cada vez mais esse nada sem sal

Nosso mundo é dividido em diversas teorias
Que separam quintais com cercas teológicas
Durante os milagres expressados na TV
É o futuro virando uma ideia arqueológica

Tentar conhecer sempre deixa cicatrizes
O intenso desespero dourado e obsceno
Faz o olhar brilhar convicto, forte e infeliz
E nesse triz a sorte cautelosa evita o aceno

sexta-feira, 24 de julho de 2015

"Farrapos de Luxo"



FARRAPOS DE LUXO
(R.Candeia - 21/07/2015)

Saindo da mesa por abstratas tangentes
Por essa gente que vive em si de aluguel
Com seus barbitúricos bem pra lá de caretas
É o senso comum, sendo comum e sem véu

Somos peritos de nossos próprios crimes
Nuvens internas nos trazem tempestades
Nossa insanidade é julgada pela bancada sã
Que segue o fluxo da tarja preta da santidade

É o sado masoquismo da estranha mente
Pegando carona sem saber o seu destino
Encontrando emoção dentro de um nada
Num romance de privada que seduz o intestino

A realidade passa por uma grande crise
Onde o infértil é farto e forte e ainda furta
Minha luta na tangente intoxica angústias
Chapando o nó do peito de uma forma bruta

Me desespero vendo o desespero não sentido
De tudo que gira limitado em volta de mim
Identidades são buscadas no vácuo de um caos
Em farrapos de luxo que parecem não ter fim

"Sentido das Coisas"



SENTIDO DAS COISAS
(R.Candeia - 16/07/2015)

Na linha dos pensamentos culminantes
Desafio todo o universo a se declarar
Com todas as suas crueldades feitas
Onde a receita é perfeita pra envenenar

Não pago de herói ou de santo jamais
Aqui jaz um cara vivo e não amestrado
Sou formado pelo colégio de minha erudição
Que é barata, fraca, com privilégio controlado

Não me enforco nessa corda bamba boba
Que abomina toda essa multidão engatinhante
O sentido das coisas sempre na contramão
Minha paixão é levada crua como purgante

O contestável sempre ataca por baixo de tudo
Porque nesse mundo o diálogo é escolhido
Pelas empresas de informações sanguinárias
É a maquinaria transformando revoltado em iludido

O além vive sim de uma forma mais bonita
Pisoteando sobre tudo sem deixar pegadas
Numa emboscada florida de gesto maternal
Deixando o sinal pra uma história renovada

"Burocratas"



BUROCRATAS
(R.Candeia - 14/07/2015)

Os ruídos do que se diz humanidade
Nos últimos tempos vem me incomodando
Olhares vazios como copos no fechar do bar
Ligados a gestos que vão se deteriorando

O sol não nasce e morre só para se agradar
Tudo que existe tem seu propósito natural
Pessoas se inexistem de forma tão covarde
E não escutam o alarme porque o foco é visual

Gosto de sobrevoar sobre as expressões
De todos esses cancerígenos burocratas
Que fazem da vida uma clínica de fama
Que pior do que a fome e o fumo, mata

Encontro rachaduras nesses muros de paraíso
Porque não conseguem sustentar o purgatório
Que cada um arrasta e gera nas entranhas
E o inocente é o culpado no fardado interrogatório

"Universo Bêbado"



UNIVERSO BÊBADO
(R.Candeia - 02/07/2015)

Nossos universos são bêbados espaços de ser
E nossas experiências são únicas
Mas nem sempre nos unifica
Ficando em aberto o poder de negar

O bar não pode ser reacionário
E quem vê um aquário grande e quer pescar
Não sabe o saber do que se diz
Palavras fracas somem ao gaguejar

Taxar ilícito é a barreira mais hipócrita
Que se impede de andar por onde quer
É estudar o ser de cada um
Menos a si se reprovando no que é

Regurgitando besteiras irrisórias
Refazendo a história como uma fachada
Esquecendo o lixo e o desespero dos dias
A favor da maré com suas doenças desperdiçadas

"Dias de Sanatório"



DIAS DE SANATÓRIO
(R.Candeia - 09/07/2015)

Minhas mãos perfumadas de cigarro
Esperando ansioso por uma noite a mais
O que é instinto não é extinto pela natureza
O nosso ser tem a beleza que se provou capaz

Achei que fosse azar mas era só azia
E a cicatriz que você em si penitenciou
Achando que antes tudo fosse ferida
Se encontra perdida, baby, tudo girou

E nos derradeiros dias de sanatório
Nenhum decorar limita nosso cenário
Nem mesmo as tantas neuroses teatrais
Que somente ameaçam e nunca são fatais

A alegria desse mundo louco é cigana
Que engana que vai, pensando em ficar
Fazendo desvairar os corações genuínos
Ainda sou aquele menino que ama brincar

"Tecido Podre"



TECIDO PODRE
(R.Candeia - 30/06/2015)

O caos é a nossa companhia mais íntima
É o que nos persegue e nos dá bom dia
É o estado deplorável da regressão humana
Que até em nossas camas nos vigia

Estamos parados nesse trânsito mental
Onde se abdica do próximo umbigo
Experiências devem nos levar a alucinação
E a nossa maior força surge do perigo

Faróis altos acesos e buzinas em tom agudo
Aguço meu sentido lá do fundo da retina
Me esquivando do pior que há pra viver
A guerra à paz não pode ser uma amada rotina

Até mestres esquecem  suas vocações
O caos atinge e escala de degrau em degrau
Em saraus melancólicos e empobrecidos
Coberto por tecidos que só cheiram mau