quarta-feira, 26 de novembro de 2014

"Direção Desconexa"




DIREÇÃO DESCONEXA
(R.Candeia - 26/11/2014)

Em casa, louco, rodo de um canto a outro
O cigarro acabou, me refugio na geladeira
Apelo pra água, afogando minhas vontades
A verdade é engraçada mas não é brincadeira

As horas se arrastam feito correntes
Como em filmes de terror baratos
É como um parto, quando se percebe
Que tudo que a gente pode, é querer

E ó querer mesmo, inútil, a esmo
Sem a direção desconexa oriunda
Dessa ideia imunda e bem suja
Que ata nossos pés e nunca muda

O pessimismo é uma forma de suicídio
Daqueles que querem se vitimar
Mas como não sou pago pra isso
Faço da vida uma festa, onde coitados não vão entrar

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"Amor de Esquerda"



AMOR DE ESQUERDA
(R.Candeia - 21/11/2014)
E eu não quero mais saber
O que os olhos do mundo podem ver
Se o que eu vejo se esconde em desejos
E eu fico perdido quando me esqueço
Eu aqueço o teu lado mais frio
Deixo bem louco o teu lado mais tímido
Com meu remédio interior natural
Porque os dias comuns fazem tão mal
Amor de esquerda
No palácio ou sarjeta
Nada de etiqueta
O negócio é viver
Me grite bem forte na beira do abismo
Que eu te salvo com o meu cinismo
E vamos embora, qualquer hora, juntos
Nosso amor de esquerda, nada de fascismo
Nesse tempo todo pude acreditar
Na luz embriagante que é o teu olhar
Passamos por tudo, do limpo ao imundo
Xingamos pesadelos sempre ao acordar
Amor de esquerda
No palácio ou sarjeta
Nada de etiqueta
O negócio é viver

sábado, 22 de novembro de 2014

"Ameaça"




AMEAÇA
(R.Candeia - 19/11/2014)

Da mente á água, tudo em escassez
Frases perdidas são tragadas à surdez
Numa explosão desperdiçada à toa
Simplesmente por não ter ninguém por perto

Em um mundo sem graça e sem cor
Não há sol forte, calor e nem tempestade
Só mesmo aquela mórbida garoa
E os dignos de pena que não têm piedade

As pessoas não se perdem pela cidade
É a cidade que se perde nas pessoas
Em cada opinião um universo diferente
É o ódio no verso cada vez mais frequente

Ideias boas passaram a ser delinquentes
Nesse clima pesado de frieza quente
Me livro, de revistas que não é, livro
Tragédia tatual de ameaça livre

"Sanatório"




SANATÓRIO
(R.Candeia - 05/11/2014)

A arrogância só se encontra
Nos mais súbitos desejos
De todos os seres submissos
Que sem vidência antevejo

Como pastores que pregam
Sem o martelo da "justiça"
Pensamento guiado é um produto
Barato e falso que enguiça

Meu trem corre nas artérias
Como em trilhos, feito sangue
A realidade implora alteração
Antes que ela mesma se esgane

Só queria ter paciência
Pra deixar de ser paciente
Desse hospital "cristão" da vida
Um sanatório de indigentes

"Marcas"




MARCAS
(R.Candeia - 17/11/2014)

Encante-se de uma forma única
O sorriso é uma arma fatal
O nosso interior nos saboreia
Há relatividade entre o bem e o mal

Os ares devem ser de liberdade
A mitologia dos dias nos move
E quem não precisa só critica
E ainda é só por si que se comove

Entregando o acaso ao destino
Nas escadas fico nu e desatino
Extravasando a lendária liberdade
Atentado ao pudor sem alarde

O alarme toca pra afastar felicidade
Alertando os rancorosos de plantão
Que vivem sossegados e deitados na tristeza
Encontrando beleza nas marcas de sangue no chão

"Deprimentes"






DEPRIMENTES
(R.Candeia - 21/11/2014)

Nada me incomoda tanto
Quanto os seres desiludidos
Com suas caras de espanto
E por migalhas vivem em prantos

São almas lavadas a seco
Fazem da liberdade um beco
Acordam cedo para atrapalhar
A energia de quem pode brilhar

A vida entra num profundo coma
Nosso lar virou prisão
Nossa asas foram furtadas
Pelos que festejam a desilusão

A humanidade pega fogo
Num jogo simples de acertar
A paz e o prazer correm perigo
Isso é muito deprimente de aceitar

Em todo passo dado
Um campo minado
Que tempo mais difícil este
Talhado sobre sangue e com estilete

A vida entra num profundo coma
Nosso lar virou prisão
Nossa asas foram furtadas
Pelos que festejam a desilusão

"Inexistencialismo"




INEXISTENCIALISMO
(R.Candeia - 11/11/2014)

Tua mente te prende covarde
Fazendo teus olhos cegar
No vazio que não é percebido
E num mar sem água se afogar

Pobres palavras ecoam de sua boca
O retrato perfeito dessa humanidade louca
Pouca noção e muito desentendimento
E assim, felizes vão sofrendo

Ler mesmo, só a tabela de preços
Objetivos, presente caro e adereços
Liberdade numa roda giratória de rato
Nada é barato, o labirinto é o endereço

Válvula de escape dos que têm tensão
Um objeto inconsciente da carência
Mas pela manhã a solidão te chama
E você acorda com boletos e aparência

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"Vinho Branco Chileno"






VINHO BRANCO CHILENO
(R.Candeia - 23/09/2014)

E numa taça de vinho branco chileno
Me liberto e libero todo peso que levo
Exalando das palavras o lindo veneno
Que clareia suave o vermelho sereno

A enigmática dança de passos desconexos
É insaiável que nem a majestade vida
Que vira plebeia perante o divino sem fim
Pondo no palco a anarquia escondida

Se distrair nada mais é do que sentir
E na distração começamos a amar
Só bebo mesmo porque sei que amo
Ah, vinho branco, igual a pele que há em ti

E no quase verde dos teus olhos
Encontro nossa paz e briga, necessárias
Laços se afrouxam, mas continuam laços
Que depois se apertam nas vitórias diárias

  


"Raciocinio"






RACIOCÍNIO
(R.Candeia - 23/09/2014)

Para eu me tornar uma pessoa melhor
Preciso meditar mais, ter mais controle
Pensar antes de dizer algo que ofenda
Fazer do bem e da paz minhas oferendas

Tenho que conversar mais com a calmaria
Ignorar mais o estresse que tanto corrói
E burla a livre passagem dos pensamentos
Que é a verdadeira arma da sobrevivência

Tem horas que a abstração é puramente
A melhor forma de desobstrução
Do que é realmente concreto, e o concreto
É o que temos de mais valor no viver

A capacidade de raciocínio deve ser intacta
Odeio assassinar palavras as entalando
De forma grotesca em minha garganta
As enforcando, cruel, em minhas cordas vocais

      




"Novas Linhas"




 NOVAS LINHAS
(R.Candeia - 23/09/2014)

O que esperar de um mundo onde
O espírito que se diz santo
Engravida uma mulher casada
E não consta que ele tenha pago pensão

Qual erva inventou Adão e Eva?
Bêbados cruzam o mar vermelho
Deliciando seus vinhos enlouquecidos
Avistando pessoas andando sobre a água

Tinham dinossauros na Arca de Noé?
Onde que uma cruz pode significar vida?
Então posso dizer o mesmo da forca?
E da cadeira elétrica? É ou não é?

O mundo precisa de menos estorinhas
E de muito mais amor e respeito
De menos ódio e sangue no peito
Precisamos reescrever novas linhas

             



"Atitudes"



     

  ATITUDES
(R.Candeia - 11/09/2014)

Um ego cego e descontrolado mata
E nessa mata de caminhos turvos
Me curvo diante do anseio
Que estraga todo solo que permeio

Compactuo comigo antes de tudo
Já passamos da época do filme mudo
E não mudo uma muda do sol pra sombra
Apenas atropelo sutil o que me assombra

Não fico à espera de um carteiro invísivel
Trazendo cartas que nunca foram escritas
Numa farta criação imprevisível
Que utiliza palavras nunca ditas

Não glorifico no altar os meus fantasmas
Isso deve ser pior que uma asma crônica
Pois o ar da brisa é o mesmo da combustão
A vida é mesmo uma piada irônica

                 





"Regressão"






          REGRESSÃO
(R.Candeia - 16/09/2014) 

A tecnologia tem avançado muito mais
Do que o pensamento humano
Que consegue regredir mais a cada dia
Varrendo o bom senso pra baixo do pano

E quando tudo isso acontece
A humanidade sem perceber se auto condena
Ficando em cárcere privado de si mesma
Numa triste prisão interior que apequena

Como viver num mundo de escolhas falsas
Onde o amor sofre ditadura dos odiosos
Que se agarram em dogmas fabulosos
Lobotomizando as pessoas fracas?

Pensamentos evoluídos sangram juntos
Igrejas arrecadam verba e doam preconceitos
Com seus empresários e pedófilos da fé
Transmissores da cegueira e do falso perfeito

              




'Toque"



            TOQUE
(R.Candeia - 22/08/2014) 

Caminho torto em torno de mim
E às vezes choro com esse mundo
Que esconde o sangue no asfalto
Com seu plástico preto imundo

Os pensamentos encontram muros
Que os impedem de serem livres
A liberdade está de pés feridos
Porque teve suas asas cortadas

Pessoas se recolhem em toques
As noites agora possuem donos
Medo é diferente de respeito
Que foi devorado pelos humanos

Não adianta procurar ou esconder
A dor real não fixa endereço
E também não tem cor preferida
Não liga pra dinheiro ou preço

              








"Aviso"



         AVISO
(R.Candeia - 27/08/2014)

Perigo, mas precisar procure em mim abrigo
Cuidado,  sou  personagem,  talvez fictício
E posso ser aquele  último indício
De tudo aquilo que um dia pensou nascer

Me ouça a fundo, mas não leve tudo a sério
É sério, digo com meu ar meio misturado
Mas preste atenção nas pessoas
Elas atropelam, olhe sempre para os lados

Me peça um cigarro, um papo ou abraço
Me grite às três da madrugada se for preciso
Sóbrio ou não, eu até posso te ajudar
Pode vir a mim com qualquer tipo de olhar

Sou tão egoísta que me apego ao dividir
O que levamos da vida é o que a gente deixa
A alfândega do além nos proíbe dos bens
Numa revista única, severa e mediúnica

             






"Discurso"





      

           DISCURSO
(R.Candeia - 15/08/2014)

Esse sangue que escorre em teu peito
Pode por detalhe não ser seu
E sim espirrado dessa humanidade
Sangrenta que fere, machuca e arde

Um olhar torto pode acabar em bala
Ninguém quer saber de ninguém
Tudo se encontra tão perdido
Ao sair de casa a palavra é amém

Comunicação só em gestos obscenos
Morre toda hora o que é belo e sereno
A justiça está presa por injustiça
E em cada campanha gargalhadas postiças

O medo deixou de ser um triste segredo
Nesse samba o desespero é o enredo
Que é comprado com o nosso dinheiro
E com nada, tentamos o prazer por inteiro


             

"Pressão"






 PRESSÃO
(R.Candeia – 04/08/2014)

 Tirando o tempo, tudo para, até mesmo o coração
E essa estranha pressão que atinge minha cabeça
Chega até a me assustar como os filmes de terror
Que eu sempre insistia em ver na infância

A vida é um pequeno, mais valioso pedaço do universo
Que ao mesmo tempo não vale quase nada
É uma linda e catastrófica miragem real que ganhamos
Não sei porque e muito menos de quem

Só sei mesmo que vale a pena estar aqui, é muito bom
Cada aprendizado é um prêmio para a alma
Que eu acredito que exista sim, não sei como funciona
Talvez ela haja no automático, mas nos guia ou nos segue?

Não sei, mas no caso da vida, ela é um breve infinito
Que alegra e desaponta, vai do que é feio ao mais bonito
O que eu posso afirmar mesmo, é que é bom ser matéria
Ter sangue nas artérias e festejar cada dia vivido

                          



"Anseio"






ANSEIO
(R.Candeia - 08/08/2014)

O ódio em teu olhar não me serve de nada
Pode me servir no máximo de piada
Um esquema armado para derrubar
Nunca existiu a pura inocência no ar

Sonhos falsos compram o paraíso
Que serve de moradia sem aluguel ao diabo
Diabo que só existe se a gente quiser
Como é Deus, só existe mesmo se crer

Palavras pontiagudas vem de todos os lados
Amoladas e cegas, mas só vêm pra cortar
Armas variadas são escolhidas a dedo
Por quem tem medo e é fraco ao falar

Ignoro por tudo a existência da ausência
E louco louvo a onipresença do meu pensamento
Que é mais real do que fábulas controversas
Humanidade, não me peças por ti, reconhecimento

                     



"Esculpidos"




“ESCULPIDOS”
(R.Candeia - 24/10/2014)

Quando tudo acaba, algo novo começa
A pressa não é a inimiga real da perfeição
A inimiga da perfeição é a existência
Mania chata do ser humano e sua essência

Pessoas “perfeitas”  em seus mundos errados
Todos possuem seus tetos de vidro
E insistem em tacar pedras no telhado do lado
E julgam, mesmo estando há muito condenados

Não dá para resumir tudo isso em apenas palavras
São línguas que ferem e mãos que não se lavam
E assim levam o que chamam de vida no inodoro odor
Vidas esculpidas de frente ao espelho com caras de horror

Olhares perdidos nos seus vácuos cranianos
Acorrentados pelo comum, deixando a corrente levar pro oceano
Cadeados morais não liberam o melhor do viver, e por medo
Não aceitam, que não existe nada melhor do que poder ser
                            

"Cruzamento Sem Fim"




Uma simples e sincera homenagem a esta grande pessoa, que no auge de sua juventude, nos deixou no dia 16/08/2014, apenas aos 24 anos. Descanse em Paz !!!

CRUZAMENTO SEM FIM
(R.Candeia - 19/08/2014) 

A felicidade às vezes pode matar
Pior mesmo é a batida infelicidade
Porque ela faz o ser,  viver estando morto
Como a fidelidade de um porto sem mar

A overdose de um ser humano normal
É dentro de um copo d’água mineral
Ou no canudo, de um suco de caixinha
Qualquer Eunuco comparado é galinha

Quando a bandeja chegou em minha mesa
Os sonhos já tinham se acabado
Então só por minha segurança
Eu permaneci acordado

Como um cruzamento que pode não ter fim
Viver é uma instabilidade constante
Ninguém sabe o que está por vir
A eternidade é escolhe o seu instante

        






"A BUSCA"






A BUSCA
(R.Candeia - 14/10/2014)

Sentado no bar contemplando a vida
E tentando um diálogo com a paz
Respirando fundo com meu fumo ao lado
E minha amada cerveja na frente

Milton Nascimento tocando no fundo
E eu imaginando como é louco esse mundo
E um ser humano aparece trincado em minha frente
Dizendo estar liso, nessas horas não é disso que preciso

Aceito de primeira seu cigarro paraguaio
Em troca dou um gole de cerveja
E quero que o mundo veja que ele foi logo embora
Milagres acontecem não importa onde se esteja

O  meu bolo não quer essa cereja
E a música triste agora toca
Sou um índio perdido em minha oca
Que fica sem saída mesmo sem porta

O que diferencia o mal do bem
É que o mal nunca é esquecido
Sequestrei minha confiança e parece
Que não paguei o resgate

Me sinto como uma desonrada barata biscate
Mas sei que o meu coração bate, e agora toca Ney
E dentro dessa beleza sonora
O momento ignora o que errei e acertei