quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

"Ok"



Composição n° 995

OK
(R. Candeia - 26/01/2018)

Ok, você tem direito
Esse mundo estreito conheço
E não é o terço que vai me convencer
Pro fim ignoro o começo

Como diz o ditado dos desocupados
Se não se tem o que produzir ou fazer
Fale mal dos outros
E tente (ao menos) se satisfazer

Que se dane a glória feia dos seres secos e infelizes
Onde seus chamarizes levam ao abismo
E nem de petisco servem pra essa vida
Tão desprovidas de beleza e eu cheio de cinismo

A loucura está no mal de quem não a vive
As alianças forçadas como máscaras tradicionais
Por uma surpresa talvez esperada
São os sãos com suas paranóias banais

Lindos são os prostitutos das mesas
Buscando até mesmo, pelo menos insultos
Desbravadores da vida de ampulhetas quebradas
Mostrando em seus versos que não são incultos

Igual a um idoso abandonado nas últimas
Esperando sem esperança por seus filhos
Que buscam o prazer esquecendo o passado
Como um ser vivo atado em cima de um trilho

Arrumando em cada expirar empecilho
Com seus utensílios que ninguém utiliza
Pior do que você pisar na merda
É você ser a merda em que se pisa










quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

"Retina Dilatada"



Composição n° 994

RETINA ESQUARTEJADA
(R.Candeia - 18/01/2018)

Quando tudo tá muito perto da cara
Os olhos embaçam e não consegue se ver
Venda posta e o arder que controla
Extrapola os sentidos perdidos ao crer

As certezas não perdoam ninguém
Um harém vazio cheio de frio não crido
Depois de invadido sob olhos que nadam
E no nada transam e amam o ter sofrido

Punição deliciosa de se auto impor
Num bolor querido visto como florido
Após tudo ter ido embora aos risos
Pelo fato trágico que é agradecido

A face tida como a mais suja
Geralmente sempre é a verdadeira
Nessa brincadeira de roda inconstante
Nossa variante é sempre traiçoeira

Pensando na existência fatal que temos
Barco sem remos à deriva e ventos grotescos
Somos também tudo de ruim que respira
E o que pira é todo o mal que temos parentesco

Pelos bares divido tudo que é meu
Com malandros, ciganas e meretrizes desencarnadas
E qualquer retina que se fere por isso
Não entende a si mesmo por ser laboriosa piada






quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

"Elucidar"



Composição n° 993

ELUCIDAR
(R.Candeia - 10/01/2018)

Refaço toda trama perante
À reinante exaustão do drama
Sentindo o peso de um olhar
Mas não chego a virar na cama

E o poeta longe do chão se coloca
Entre astros por ele criados
Onde todo chiado é uma bela canção
Mente vazia se põe em pleno clarão

Criando inventores
Inventando criadores
Somos de nosso torpor
Os próprios colonizadores

O venusto procura o infausto
Na calada do sono do que é coibido
E tudo é perfeito porque não há mal
Castidade papal a olhos vestidos

Até o profeta de cartas marcadas
Se espanta com as marcas propositais
De decisões fatais que nada decidem
E apenas reprimem coisas naturais

Criando inventores
Inventando criadores
Somos de nosso torpor
Os próprios colonizadores


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

"Manias de Senzala"



Composição n° 992

MANIAS DE SENZALA
(R.Candeia - 04/01/2018)

Chuva que não desabafa esse tempo
Nos conventos de fachada cospem
Reversas ideias um tanto controversas
Que seus próprios ideais se entopem

De joelhos apenas na encenação
Nas conversas remessas de desconhecido
Onde até o inventado tem a sua vez
O que já foi sentido sempre perde o sentido

Noites mal dormidas geram
O mau humor da manhã
Que encurtam tanto as palavras
E brincam com a mente sã

A castidade tatuada na pele
Nem sempre combina com gestos
O puro indigesto renuncia e denuncia
Olhares tristes que choram restos

Manias de senzala que fingem carregar
E o falso pudor que muito se exala
Sorrisos não podem causar dor
Não quero o temor da boca que se cala

Noites mal dormidas geram
O mau humor da manhã
Que encurtam tanto as palavras
E brincam com a mente sã