sexta-feira, 29 de setembro de 2017

"Bela Imagem"



Composição n° 976

BELA IMAGEM
(R.Candeia - 29/09/2017)

Nesta bela imagem do óbvio
Altera-se a acústica do inconsciente
Numa carente briga de polifonia
Naquela agonia conveniente

Imagens atropelam pensamentos
Que vagam pela contramão do proibido
Estamos perdidos em nosso próprio mapa
Isso desacata o direito de não ser coibido

Subsistência clandestina que ilumina
E fascina pelos punhos da não invenção
Amém à subversão cotidiana que exala
E fala pra frente no meio dessa regressão

O mundo externo fere o interior do individuo
Que já é dividido em conflitos de desejo e ação
Recebendo o não como se fosse um lascivo
Fazendo do inofensivo um temido vilão

Confinamento em passos tão curtos
Que se iludem na sensação de movimento
Queimando documentos fatais
Levando ideias cruciais a fragmentos







quinta-feira, 28 de setembro de 2017

"Transeuntes"



Observar analiticamente o mundo e entender outras realidades e colocar-se interpretativamente nelas como se fossem minhas, criticando o anacronismo explícito no cotidiano, essa a ideia lúdica dessa nova letra...


Composição n° 975

TRANSEUNTES
(R.Candeia - 28/09/2017)

Baseado na identidade encontrada
Pública responsabilidade privada
Numa porta sem tranca à exposição
Nossa salvação é na disfarçada

Na face a faca cega de credo
Maior que o velho medo da morte
Onde transeuntes ínfimos temem
Tão intimidados diante seus portes

Toda empática sintonia traz o dia
Então estendo os braços pra alteridade
Espanto o abjeto de perto
Dando golpes de obscenidade

Nossa incapacidade prematura
Perdura diante metáforas vazias
Nessa hibridez invejada por muitos
Que são felizes em suas apatias

Proporcionando o perigo como remédio
Daquele tédio que livra da condenação
Virando a supressão ao avesso
Tirando do berço qualquer tentação





Transeuntes = pedestres.
Ínfimo = Menor, miúdo, inferior.
Alteridade = diversidade, distinção.
Abjeto = imundo, odioso, desprezível, canalha.
Híbrido = desvio, irregular.







quarta-feira, 27 de setembro de 2017

"Parênteses"



Composição n° 974

PARÊNTESES
(R.Candeia - 27/09/2017)

Precisamos criar anticorpos
Nesse mundo abafado que isola
Vetando tantos outros espelhos
Vomitando conselhos que só consola

Olhares que flutuam a sós e não vêem
Cotidianos submersos e afogados
Somos gados conformados e felizes
Em impactos hostis neutralizados

Encaro os ônibus mesmo sabendo
Que são invencíveis adversários
E ao adverso cenário há o espetáculo
Abraçando em tentáculos partidários

Nos altares postos acima da multidão
Há a pauperização de cada pensamento
Iniciando o encerramento lúgubre
Que beija e acaricia, seduz pro sedimento

Evitando dores através de dores
Nessa paranóia crônica eficiente
O suficiente sufoca com suas paredes
Nos parênteses mortos entre dentes

sábado, 23 de setembro de 2017

"Retrato Falado"



Composição n° 973

RETRATO FALADO
(R.Candeia - 23/09/2017)

Eu não sei ensinar, só aprender
E penso para tentar existir
Para não coagir a mim mesmo
E não viver a esmo por aqui

Minha palavra não vale nada
Quero mais um copo cheio agora
Isso é o que mais vale pra mim
Mesmo que não engula e jogue fora

Toda estupidez consome mais
Do que três horas de sexo
E depois se perguntam porque
Como se tudo tivesse nexo

Nada perdoa o que se perdia
E nessa azia ocular universal
Levanto com o pé esquerdo por sorte
Estancado o corte inquisitorial

A forma indefinida do sentido
É o efeito distorcido do esperado
De tudo que foi criado por nós
Logo após um retrato falado





quinta-feira, 21 de setembro de 2017

"Dança dos Lorpas"



Composição n° 972

DANÇA DOS LORPAS
(R.Candeia - 21/09/2017)

Os dias argutos não querem saber
Onde vão dar esses passos hipotéticos
A multidão de rostos éticos esperam
E veneram tantos excrementos estéticos

A enfermidade em efetividade prospera
Nessa esfera de olhares banidos
Ideais perdidos vendidos pelo caminho
Por causa de pergaminhos aos poucos falidos

Roubando e esculpindo destinos
Num ato sovino de querer alcançar
Então vai se abraçando ao incrível
Onde o inverossímil não pode optar

Tão louco quanto Joana D'arc e Giordano Bruno
E tão insano quanto as bruxas na fogueira
E lá se vai a vida inteira no coagir da ilusão
Onde a contrária visão é marginal porque clareia

Deságuam sobre todas as dores
Aquelas coisas seletivas de amor pelo mundo
Doutrinando como se confessa uma fé
A forca não dá pé estrangulando os segundos

Roubando e esculpindo destinos
Num ato sovino de querer alcançar
Então vai se abraçando ao incrível
Onde o inverossímil não pode optar








quarta-feira, 20 de setembro de 2017

"Emancipação"



Composição n° 971

EMANCIPAÇÃO
(R.Candeia - 20/09/2017)

Numa privacidade sob holofotes
Desço de meu forte com todo furor
Nem o ardor de uma história sem fim
Traz para mim qualquer dissabor

Não me sinto nada salvo
Porque não sou controlado pelo medo
O tempo livre sem segredo é inspecionado
É um inusitado doce doado azedo

De carona nas asas dos ventos
Ignorando toda e qualquer torrente
Tudo sempre pode mudar
O sol, porque não, também brilha pra gente

Como os corpos colonizados
Que são abandonados pela própria razão
Mãos largam tantos prazeres
Devido aos deveres da interna prisão

Emancipando vivas possibilidades
Espelho pela vaidade quebrado
É o brado da garganta sem margem
Borrando a imagem desse quadro forçado

Dando calote nas asas dos ventos
Ignorando toda e qualquer torrente
Tudo sempre pode mudar
O sol, porque sim, também brilha pra gente




quinta-feira, 14 de setembro de 2017

"Resíduos"



Composição n° 970

RESÍDUOS
(R.Candeia - 14/09/2017)

Largados a seus próprios instintos
Extintos por olhares formais
Nada mais se busca ao relento
Só cruciantes sargentos morais

Se afogam no raso dos saberes
Por nunca terem visto a profundidade
Na arte não pode haver leis
Censura imposta por reis da modernidade

Arte limitada é um grito de boca fechada
Onde resíduos de fezes santas opinam
E marginalizam a falta de esperança hereditária
Cartilha imaginária, patologias que ficam

Psicólogos mortos pela exatidão
Submersos nas tantas incertezas alheias
Em banheiras que viram oceanos
Onde a vida é menor que um grão de areia

Com ventos eróticos sopram batizados
Esterilizados messiânicamente
Aguardente não é farsa como bem tá
Pra delitos flagrados teoricamente



Obs:

Cruciantes = angustiante, doloroso e torturante.

"Hermético Código"



Composição n° 969

HERMÉTICO CÓDIGO
(R. Candeia - 14/09/2017)

Num hermético código conflituoso
Através de comunicações clandestinas
Protegem seus orifícios atrás de cruzes
Apagando as luzes quando a voz afina

No terço, no quarto, tudo se esconde
Nesse bonde lento que só a si carrega
E então saficamente entrega o temor
Daquele terror que nas veias navega

A consolação enraizada no peito
Ameniza o pleito próprio sobre a mesa
E de joelhos não se reza apenas
Ruas viram arenas de uma proeza não coesa

Criamos o abstrato à nossa semelhança
E a nossa herança foi a quimera salvação
Farmácia de manipulação pra cada desejo
Até mesmo pro sagrado bocejo no sermão

O infinito não existe onde o plano tem fim
Movimentos enfim são desconsiderados
Batinas, tarados, século passado debatido
E se tem convencido que o provado está errado

(E sem ter o que dizer põe a culpa em algum lado)









quarta-feira, 13 de setembro de 2017

"Desengano"



Composição n° 968

DESENGANO
(R. Candeia - 13/09/2017)

Toda sobriedade é uma doença fatal
Tudo exposto ao público é pura edição
A escuridão ampara a salvação da moral
A vida do quintal encobre a do porão

A cegueira, a miopia e o estrabismo
Cria um conformismo que ultrapassa livros
A inocência da tão esperada volta
Num otimismo que aponta e leva a crivos

Essa vida é tão reorganizável
Às vezes me distraio e então percebo
E nesse orate ciclo não potável
O mais estável mora dentro do placebo

Eufemistas das imagens
Vagando puros e belos em verdes jardins
Nos confins de belezas divinas
Que em toda a esquina distribuem jasmins

Toda falta de silêncio vira conspiração
O real como uma mão proibida em decreto
Logrando intuições graciosas ao poviléu
Monstrando um pouco do céu objeto





Obs :

crivo = julgamento

Placebo = toda e qualquer substância sem propriedades farmacológicas, 
administrada a pessoas ou grupo de pessoas como se tivesse propriedades terapêuticas.

Eufemismo = uma figura de linguagem na língua portuguesa, um mecanismo que tem o objetivo de suavizar uma palavra ou expressão que possa ser rude ou desagradável. E consiste na troca de termos ou expressões que possam ofender alguém por outras mais suaves, seja por serem indelicadas ou grosseiras.

Lograr = enganar

Poviléu = povo

Orate = sem juízo, louco 

terça-feira, 12 de setembro de 2017

"Dicotomia"




Composição n° 967

DICOTOMIA
(R. Candeia - 12/09/2017)

Dicotomia instaurada em agonia
Sobrevivo pelo fato de persuadir
E todo esse lânguido povo que chora
Totalmente ignora o antes do porvir

Lutas imberbes só podem ferir
E nada mais do que isso até agora
Jogam tudo fora pelas tangentes
Ideias abrangentes não encontram hora

Festas públicas são escárnio em faces
Nebulosidade escondendo placas de sentidos
Emoldurando a castidade em jejum
E orando por um pensamento contido

O eco plácido de subordinadas vozes
São tão ferozes quanto a passividade
Que qualquer novidade pode causar
Afim de controlar e matar a verdade

Subversivos nascem da impaciência
E da carência de compreensão ao redor
Pormenor não conhecido dos motivos
O engodo ativo acomete o esplendor



Obs:

Dicotomia = divisão em duas partes contrárias
Persuadir = mover, induzir, acreditar
Lânguido = que se encontra em fraqueza física e psicológica
Imberbes = jovem, de pouca idade
Plácido = serenidade, brado leve
Subversivo = ato ou efeito de derrubar, perversão moral
Pormenor = detalhe, minúcia
Engodo = ilusão
Acomete = ataca


"Derruindo Ethos"




Composição n° 966

DERRUINDO ETHOS
(R. Candeia - 12/09/2017)

Precisamos envenenar nosso sangue
E dar inteiro a nossos vampiros
Não é todo giro que muda um destino
E em cada gesto fino eu piro

Fenecer a corrente moralizante
Vicejando viciante a obra enrubescida
Que é distorcida, uma face após purgante
Criptando o desejo de limitar a vida

Nesse cenário sombrio
Nós somos as velas
E o que se revela
É apenas um frio

Adestrado e livre no cercado
Atmosfera de sedução poluída
Onde o maior e ousado legado
É a fuga incrível pra uma rua sem saída

Quantos passos pode se dar
Sem tocar no chão?
Quantos sonhos pode se ter
Sobre o mesmo colchão?




Obs:
Derruir = demolir
Ethos = conjunto de hábitos e costumes fundamentais
Fenecer = tornar mais fraco
Vicejar = desenvolver com força
Enrubescida = tornar vermelho

"Velhos Anúncios"




Composição n° 965

VELHOS ANÚNCIOS
(R. Candeia - 12/09/2017)

Nos clichês anunciados
Na rua, nas bocas e janelas de carros
Se encontra toda a desmotivação
De enfrentar esses tantos ideais bizarros

O louvor devido a tudo que acontece
Até mesmo o que apodrece é agradecido
Enquanto o genocídio domina o mundo
Da arquibancada se contenta ao assistido

E esse afeto afeta os fetos nem nascidos
Já estão convencidos antes dos olhos abrirem
Que se insistirem serão apedrejados
E caminham ao lado do nada a sorrirem

Velhos anúncios
A ignorância é um projeto supremo
Que irrita até mesmo o desprezo
Por tudo aquilo que não lemos

Todo passado explica o presente
E condena o futuro que não muda
Ninguém ao menos estuda o que se é
É começando pelos pés que tudo se inunda